A melhor jogada de Vieira?

As notícias sobre a BenficaTV passar a canal pago, ao mesmo tempo que foram adquiridos os direitos da Premier League para as próximas 3 épocas, constituiram uma surpresa que pode ter efeitos de grande alcance. Diria mesmo que, em termos estratégicos, esta decisão pode ser a decisão de maior relevo tomada desde que LFV assumiu a presidência do Benfica.

Por um lado, tal decisão liberta o Benfica da pata da Olivedesportos, diminuindo simultaneamente a capacidade de influência da empresa que tem sido o verdadeiro centro do poder no futebol nacional. Por outro lado, abre, efectivamente, o potencial para o Benfica cavar ainda mais o fosso em relação à concorrência, no que à capacidade de geração de receitas diz respeito, colocando maior pressão sobre adversários, em particular sobre um cujas dificuldades económicas têm sido mais do que evidentes nos últimos tempos, mesmo com as vendas milionárias tão destacadas pelos amigos estrategicamente distribuídos pela imprensa.

A decisão de passar os direitos dos jogos para a BenficaTV não está isenta de riscos. É claro que esta decisão colocará nos Benfiquistas uma parte importante do esforço para a tornar um sucesso. A situação económica do país, que afecta todos os portugueses, mas em particular os de menores recursos, entre os quais se encontrarão um grande número de Benfiquistas, é uma variável que pode after o número de adesões ao canal pago e, com isso, a expectativa de receita que a decisão pode trazer.

Não se deve, de igual modo, pensar que o sistema, ameaçado de forma muito séria por esta medida, vá ficar parado, à espera que aconteça, sem procurar diminuir o impacto que ela pode ter. Seguramente, uma das ameaças que se afigura como mais provável, reside na decisão publicamente assumida pela Liga de Clubes, de centralizar os direitos desportivos. Ironicamente, a Olivedesportos pode ser o maior obstáculo à concretização desta decisão, pelo facto de existirem contratos em vigor com mútiplos clubes, e com os prazos mais variados. No entanto, a decisão do Benfica pode, até, enfraquecer um dos argumentos usados pela Liga para a centralização – o domínio do operador único, que terminará quando se iniciar a transmissão dos jogos do Benfica na Benfica TV. Claro que até que esta situação se concretize, podemos esperar pressão em termos desportivos, mas isso não será nada a que não estejamos habituados.

Já referi que um dos riscos da medida é o facto de serem os Benfiquistas a suportar grande parte do aumento de receita que o Benfica pode ter com esta decisão. A verdade é que esse risco também encerra um grande potencial, porque se alguma coisa distingue o Benfica dos outros, foi sempre o contributo dos Benfiquistas para a construção do clube, bem ilustrado pelo esforço colectivo na construção do primeiro Estádio da Luz. Como dizia o Hugo, no Religião Nacional:

“um clube como os outros, que nasce no meio dos outros, não se torna tão maior do que os outros apenas por fazer o que os outros fazem, ou por pensar como os outros pensam”.

Esta medida da direcção de Luis Filipe Vieira, em quem não votei, é uma medida que tem toda a possibilidade de ser uma daquelas que muda o jogo, porque é radicalmente diferente do que os outros fazem, porque quebra o poder financeiro dos guardiões do sistema e porque dá aos Benfiquistas a possibilidade de, por via do seu próprio esforço, impulsionarem o clube que amam para um patamar onde poderá ser a força dominadora por que anseiam, em linha com a cultura de esforço e trabalho que tornou o Benfica num clube maior do que qualquer outro em Portugal, e num nome respeitado pelo mundo fora.

 

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